Bem no meio do temporal

Tempestade no Mar da Galileia, autor não identificado
Se pretendemos retirar da Escrituras algum ensinamento sobre como atravessar as tormentas da vida, não podemos deixar de considerar dois episódio importantes: o livro de Jó e a tempestade no mar da Galileia. É curioso constatar como essas duas narrativas distintas possuem tanto em comum. E somente esse paralelismo de situações pode nos assegurar de que por mais inusitadas que as nossas experiências nos pareçam, elas possuem equivalente na história da salvação, que não só nos encoraja, como nos enche de esperança.

Uma das incertezas, talvez a primeira que nos assalta, esta seja justamente a dúvida quanto a presença de Deus conosco na hora da aflição. Por mais que Jó negasse, os seus amigos insistiam em afirmar que Deus se afastara dele por que contra ele tinha uma questão, e que qualquer mudança na sorte do patriarca teria que passar antes por uma reconciliação com Deus através de uma declaração de culpa. Com os doze discípulos no barco em meio à tempestade também surge esta mesma inquietante questão, e ela fica patente nas palavras daqueles que ousam acordar o Mestre dizendo: Não se te dá que morramos.

Não podemos deixar de observar também que a resposta a ambas as situações foi a mesma: fica quieto. Não consigo acreditar que estas experiências não tivessem transtornado de vez a vida destas pessoas. Nem Jó nem os discípulos poderiam, dali em diante, expressar a sua fé da mesma maneira que antes. Por uma purificação contundente elas obrigatoriamente teriam que ter passado. Mesmo que eles não entendessem de imediato, a verdade quanto a presença constante de Deus não mais poderia ser negada.

Deus estava lá, bem no meio da tempestade. Tanto Jó, quantos os discípulos a duras penas chegaram a mesma conclusão, conclusão esta que poderia ser extraída também da fé confiante, caso eles tivessem realmente esperado em Deus pelo fim do temporal. Eu sei que não foi e que ainda não é nada fácil, e sei também que outras tempestades também viriam para colocar a fé deles em cheque. Mas a experiência suprema de descobrir Deus bem no meio do temporal, eles nunca mais poderiam negar.

Atentem sempre para o fato de que eu disse esperar em Deus, que é muito diferente de esperar por Deus. O rev. Paulo Schütz tem um blog onde publica quase que diariamente os Ditos MalDitos. E em um desses ditos ele assegura com toda a convicção: quem espera por Deus está atrasado ou no lugar errado. Esse, sem dúvida, é mais um ensinamento a ser absorvido, uma vez que a quietude da fé não significa inércia ou apatia, mas um seguir em frente, na certeza de que nele podemos descansar, porque "a sua mansa voz, ainda acalma o vento e mar feroz".

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