O vale e a montanha II

Jesus cura o menino, www.ids.org
Quanto mais sensíveis formos aos apelos das outras pessoas e do mundo, mais intensamente o eco do “até quando?” retumbará em nossos corações. Contudo, se do texto nos vem a vergonha pela nossa impotência, do próprio texto vem também a nossa esperança. Jesus não recusou a sua bênção para aquele pai, ele não recusou a sua bênção para aquele filho a despeito da omissão dos seus e ineficiência dos seus discípulos. Isso serve para nos encorajar e para que não desanimemos no nosso ministério.

Observemos agora como Jesus trabalha no vale após descer do monte da transfiguração. Percebamos também a sensibilidade e compaixão com que trata aquele pai desesperado. Talvez o pai precisasse tanto superar o seu desânimo e desesperança quanto o menino precisasse da cura. Para ter uma melhor compreensão desse duplo sofrimento, na narrativa do mesmo episódio segundo São Marcos 9, Jesus faz uma pergunta e ouve a seguinte resposta: Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu; e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar.

A conversa foi abreviada porque Jesus sabia bem o quão premente era a necessidade daquelas duas pessoas. Essa necessidade tinha ficado clara no seguimento do rápido diálogo: mas, se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. A fé desse homem tinha fortemente abalada pela doença do filho e pela incapacidade dos discípulos. Isso serve para nos fazer refletir sobre quantas pessoas têm sido prejudicadas na sua fé justamente por causa das atitudes em que temos nos omitido e por causa daquilo que não temos capacidade de fazer.

O credo de Jesus que veio do alto da montanha é completamente diferente do credo dos discípulos no vale. Ainda no evangelho de Marcos, Jesus declara: Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê. Jesus deveria ter perguntado antes àquele pai: o que você quis dizer perguntando se eu posso? Para uma pergunta tão recheada de dúvidas a resposta deveria ser dada através de outra pergunta, pois somente assim as posições ficariam bem definidas. Mas não foi necessário a nossa bem conhecida e repetitiva discussão sobre a fé, porque postura do pai já havia mudado: E imediatamente o pai do menino exclamou com lágrimas: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!

O pai expressou honestamente a sua desesperança pelos tantos anos de decepção. Ele sofreu tanto durante esses anos que era impossível para ele crer mais. Foi assim que ele chegou à sua condição real. Ele expressou para Jesus a realidade da sua vida: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé! Essa conturbada confissão de fé foi bastante para Jesus. O homem conhecia a sua necessidade, mas sabia também das suas limitações. Ficam aqui as perguntas: por que os discípulos, então, não se expressaram da mesma maneira? Por que é que foi justamente esse pai sofrido que expôs a incapacidade dos discípulos? Por que é tão difícil e até impossível para nós confessarmos a nossa falta de fé, assim como expressarmos as nossas reais necessidades? Por que é tão complicado para nós admitirmos a nossa imperfeição? Porque nós os religiosos achamos que é mais fácil apontar e descobrir todas essas coisas nos outros.

Eu creio. Essa é uma oração que pode transformar o vale em monte. A humildade e o desejo de mudar destrava o poder de Deus de transformar. O que Deus deseja de nós hoje é que sejamos honestos sobre a nossa situação moral e espiritual. Deseja também que sejamos humildes sobre as nossas carências. A breve oração daquele pai deveria ser a oração primordial da igreja toda: sim, Senhor, nós cremos. Ajude-nos a crer mais! O nosso problema com essa oração é que nós trabalhamos para ter tudo sob o nosso controle. Nós queremos a segurança de que tudo aconteça como queremos e desejamos. Não precisamos do Espírito Santo porque nos arriscamos muito pouco.

Um dos maiores dons que Deus pode dar a uma igreja é retirar dela o senso de segurança. O amor de Deus para conosco é manifesto nas horas de maior necessidade, na hora do nosso desespero e quando cremos que somente ele pode nos ajudar. Enquanto nós acharmos que tudo vai bem, que temos o controle de tudo e que não há problema, nunca saberemos o quanto estamos errados, o quanto estamos carentes e o quanto estamos perdidos.

No retorno para casa, os discípulos perguntaram a Jesus: por que nós não pudemos curá-lo? A pergunta estava engasgada na garganta desde o primeiro encontro com o pai do menino. Jesus responde que o poder de Deus vem do alto do monte para cada vale da nossa vida: esse espírito só pode ser expulso com oração. Falando com Deus das nossas carências e ouvindo e obedecendo a voz dele. Foi exatamente isso que Jesus fez na montanha: ouviu a voz de Deus. O resultado foi poder demonstrado no vale. Quando nos concentramos no amor de Deus para conosco somos transfigurados pela sua presença e sua esperança. Assim a intimidade do nosso coração é conhecida, como conhecida também será a necessidade que temos do poder que vem do alto para sobrevivermos às necessidades do vale.

2 comentários:

NEHEMIAS RUBIM disse...

Caro amigo Sergio,
Conheço uma senhora que foi desenganada pelos colegas por sofrer de um câncer cerebral.Ela me relatou que estando no Hospital Antonio Pedro, já em fase final, sonhou que um médico e uma enfermeira se aproximaram dela. Ele disse que iria operá-la e assim o fez. A enfermeira trazia um balde onde ele depositou o tumor extraído. Isto ocorreu há uns 30 anos e ouvi seu relato e VI A CICATRIZ, há uns 10.
Há pouco um garoto foi atropelado por um carro que passou com uma das rodas por cima de sua cabeça. Está vivo e sem sequelas. Deu na mídia. Ouvi o relato de um dos colegas que o assistiu: Só pode ter sido UM MILAGRE.
O livro de Yogananda, AUTO BIOGRAFIA DE UM IOGUE, relata inúmeros milagres. O autor nos ensina como se dão os milagres. Os ocidentais têm uma tendência a descrer e até ridicularizar, pois "só Jesus salva." Não entendem que DEUS É AMOR Não entendem que Jesus nos ensinou que;" meu Reino não é deste mundo. De mim mesmo eu nada faço, mas faço a vontade do Pai."
Abração

Amós Boiadeiro disse...

Os milagres que o texto cobra de nós estão mais no terreno da nossa falta de amor do que propriamente nos fenômenos sobrenaturais.

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