O que é LIVRO?

Biblioteca de Alexandria
Livros celestiais
A ideia de que os decretos de Deus e os atos dos homens são assentados num livro, no céu, é um antropomorfismo largamente espalhado no mundo semítico. Como o registro por escrito é uma garantia para que os fatos ou decretos se conservem de modo imutável e completo, essa imagem era sobremaneira própria para esclarecer a infalibilidade do governo mundial de Deus a quem nada escapa.

O livro dos decretos divinos.
No livro de Enoc fala-se em tabuletas celestes, em que a história da humanidade está descrita de antemão. Quanto à forma, podem ser comparadas com as tabuletas da sorte da religião babilônica, marcadas todo ano por Marduc, e nas quais o destino dos indivíduos e da comunidade estava descrito.

Pode-se considerar como pertencendo ao mesmo gênero o livro de Ezequiel 2.9; Daniel 11.1; Apocalipse 5.1; Jeremias 22.30; Salmo 139.16. Mas, em oposição às tabuletas da sorte babilônicas, esses livros não representam um fado cego que dominasse tudo, mas exprimem o decreto de um Deus todo-poderoso que governa a história. No Apocalipse é entregue ao Cordeiro glorificado (Cristo), junto com o rolo, a execução dos decretos divinos sobre o mundo.

O livro da vida.
Êxodo 32.32 supõe que os nomes de todos os que vivem nesta terra foram escritos por Deus em um livro, ser riscado deste livro significa morrer. Deus só risca o pecador (Ez 18.4) de sorte que ao livro se associou a ideia da retribuição: o justo continua escrito (Sl 69.29; Ap 3.5), o pecador é cancelado (Sl 69.29); à sua espera está a morte. Quando se chegou à convicção de que à observância da lei não corresponde à vida física, nem ao pecado a morte física, a vida, simbolizada pelo estar escrito no livro, ganhou um sentido messiânico ou escatológico (Dn 12.1; Fp 4.3; Ap 13.8): alguém podia viver sem estar escrito no livro, pois a vida prometida pelo livro é a vida num novo céu e em uma nova terra (21,27), que será negada aos que não estão inscritos. Está claro que o estar inscrito não equivale por si só à praedestinatio ad gloriam; o nome ainda pode ser tirado do livro. No mesmo sentido Enoc fala dos livros dos vivos, que são abertos diante do Ancião (Ap 20.12). No livro dos Jubileus os que quebram a aliança são cancelados do livro da vida e registrados no livro dos que perecem. Ao lado da ideia do livro da vida encontra-se a do livro dos eleitos, inspirada pelos registros civis, usados na sociedade humana (Ne 7.5), em que, os cidadãos de determinada cidade estão inscritos (Is 4.3; Ez 13.9; Sl 87.6). Para a pessoa gozar dos respectivos direitos, era necessário que seu nome figurasse nas listas das tribos de. Israel ou no registro civil de Jerusalém.

Isso, portanto, supõe uma seleção que se aproxima mais da ideia da praedestinatio ad gloriam (Lc 10.20): os nomes dos apóstolos foram lançados no registro dos cidadãos do céu; a mesma ideia em Hb 12.23). Paralela à de Êx 32.32 é a imagem do estar guardado na bolsa da vida (I Sm 25.29; Jó 14.17). Como o nome de Moisés não seria riscado por Deus, assim a vida de Davi ficaria "guardada na bolsa por motivo de seu zelo pela causa de Deus. Em sentido espiritualizado os judeus usam esta metáfora no epitáfio: T.N.S.B.H, (que tua alma fique guardada na bolsa da vida), que tem teor semelhante ao do R.I.P. (Rest in Peace) dos cristãos. A imagem da bolsa vem provavelmente do uso de pedrinhas para contar, guardadas numa bolsa ou num pote; um exemplar foi encontrado em Nuzi.

O livro-memória.
Conforme Sl 109.14; Is 65.6; Ml 3.16 toma-se nota no céu de todos os atos dos homens. Ne 13.14 pede a Deus que suas boas ações não sejam canceladas deste livro, pedido esse que se lê também em documentos de reis babilônicos. Em sentido oposto: risca os meus pecados (Sl 51.3). É de acordo com esse livro que Deus há de julgar (Dn 7.10; Ap 20.12).

Na literatura apócrifa apocalíptica e nos escritos rabínicos encontram-se concepções semelhantes.

Fonte: Dicionário Enciclopédico da Bíblia. A. Van Den Born

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