Lavradores maus

Lavradores maus, Jesus Mafa
Atentai noutra parábola. Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois, se ausentou do país. Mateus 21.33

Quando vemos imagens das fazendas no sul do Brasil ficamos orgulhosos, não é mesmo? Existem nelas algumas paisagens que parecem ser naturais de tão harmoniosas. Mas não são naturais não. Ali tem muito do trabalho humano, e que me desculpem os ecologistas, ficaram bem melhor do que antes. Mesmo com a certeza de foi Deus quem criou assim, temos que considerar que quem a deixou daquele jeito fomos nós, seres humanos. Muito do que existe ali não teria sido feito se não fizéssemos. No entanto, algumas dessas fazendas estupendas nunca foram visitadas pelos seus verdadeiros donos, e na maioria delas eles quase nunca aparecem por lá, a não ser na hora de comprar barato ou vender com muito lucro.

Se nos valermos apenas da ilustração da parábola montada por Jesus, ficará a impressão de que a coisa é assim desde que o mundo é mundo. Os empregados que, praticamente, fizeram todo o serviço ficam a mercê desta situação, sem saber se no futuro breve terão que ir ou ficar.

O curioso nesta parábola é que ela recebeu dos copistas o título de “a parábola dos lavradores maus”. Logicamente que levando em conta apenas a má intenção dos empregados contratados para transformar o ambiente inóspito em uma terra produtiva. Porém, deixando de lado um pouco o ensinamento do Reino proposto por Jesus nesta parábola, precisamos pensar no contexto em que ela estava inserida e também nos seus reflexos para a nossa realidade atual.

Se tivéssemos a ousadia de reescrevê-la com fundamentos extraídos da nossa realidade, teríamos que chamá-la de a parábola do fazendeiro omisso e o MST. Firmes na convicção de que estamos perdidos entre uma oligarquia detentora de da maioria das terras produtivas e dos movimentos que reivindicam terras pela força das armas. Tudo acontecendo por ser muito bem orquestrado por uma política que privilegia mais ainda os grandes pecuaristas, pois só se invade fazenda de quem vive exclusivamente da terra ou de inimigos políticos.

Não tenho autoridade eclesiástica e muito menos estatura teológica para afirmar que Jesus estava de olho nessas duas realidades ao contar essa parábola, mas tenho que admitir que ela se tornou ambígua em um outro contexto, porque, segundo o que se vê hoje no Brasil, se alguns pretensos lavradores agem ilicitamente, alguns donos de terra têm também a sua parcela de culpa, pelo fato de não terem qualquer apreço pela sua propriedade, principalmente porque ela representa apenas mais uma fonte de lucro, e que não merecem a sua presença.

Jesus diria que o Reino de Deus não se parece com nenhum dos dois casos, e reforçaria essa ideia com o conceito de que o Pai trabalha até agora, e que ele também trabalha. Ou seja: o reino de Deus seria hoje comparado a uma fazendo estupendamente bela e produtiva, em razão de um exaustivo trabalho conjunto de ambas as partes. Tanto daqueles que pela força das ferramentas transformam a terra, como pela participação efetiva de uma consciência superior que supre as necessidades mais prementes dos que produzem, como também dos que necessitam desta produção para viver.

A proposta de Jesus é que Reino de Deus deve ser uma terra abençoada onde essa parábola não faça o menor sentido. Mas ainda temos muito que cavar, muito a semear e muito mais ainda a cuidar dessa fazenda, pois mesmo que pareça que as partes negativas são vitoriosas, devemos acreditar sempre no juiz justo, que fará com que a realidade, por mais adversa que se apresente, não tenha e nem venha a ter a última palavra. 

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