Lavradores maus, Jesus Mafa |
Quando vemos imagens das fazendas no sul do Brasil ficamos
orgulhosos, não é mesmo? Existem nelas algumas paisagens que parecem ser
naturais de tão harmoniosas. Mas não são naturais não. Ali tem muito do
trabalho humano, e que me desculpem os ecologistas, ficaram bem melhor do que
antes. Mesmo com a certeza de foi Deus quem criou assim, temos que considerar
que quem a deixou daquele jeito fomos nós, seres humanos. Muito do que existe
ali não teria sido feito se não fizéssemos. No entanto, algumas dessas fazendas
estupendas nunca foram visitadas pelos seus verdadeiros donos, e na maioria delas
eles quase nunca aparecem por lá, a não ser na hora de comprar barato ou vender
com muito lucro.
Se nos valermos apenas da ilustração da parábola montada por
Jesus, ficará a impressão de que a coisa é assim desde que o mundo é mundo. Os
empregados que, praticamente, fizeram todo o serviço ficam a mercê desta
situação, sem saber se no futuro breve terão que ir ou ficar.
O curioso nesta parábola é que ela recebeu dos copistas o
título de “a parábola dos lavradores maus”. Logicamente que levando em conta
apenas a má intenção dos empregados contratados para transformar o ambiente
inóspito em uma terra produtiva. Porém, deixando de lado um pouco o ensinamento
do Reino proposto por Jesus nesta parábola, precisamos pensar no contexto em
que ela estava inserida e também nos seus reflexos para a nossa realidade
atual.
Se tivéssemos a ousadia de reescrevê-la com fundamentos extraídos
da nossa realidade, teríamos que chamá-la de a parábola do fazendeiro omisso e
o MST. Firmes na convicção de que estamos perdidos entre uma oligarquia
detentora de da maioria das terras produtivas e dos movimentos que reivindicam
terras pela força das armas. Tudo acontecendo por ser muito bem orquestrado por
uma política que privilegia mais ainda os grandes pecuaristas, pois só se
invade fazenda de quem vive exclusivamente da terra ou de inimigos políticos.
Não tenho autoridade eclesiástica e muito menos estatura
teológica para afirmar que Jesus estava de olho nessas duas realidades ao
contar essa parábola, mas tenho que admitir que ela se tornou ambígua em um
outro contexto, porque, segundo o que se vê hoje no Brasil, se alguns pretensos
lavradores agem ilicitamente, alguns donos de terra têm também a sua parcela de
culpa, pelo fato de não terem qualquer apreço pela sua propriedade,
principalmente porque ela representa apenas mais uma fonte de lucro, e que não
merecem a sua presença.
Jesus diria que o Reino de Deus não se parece com nenhum dos
dois casos, e reforçaria essa ideia com o conceito de que o Pai trabalha até
agora, e que ele também trabalha. Ou seja: o reino de Deus seria hoje comparado
a uma fazendo estupendamente bela e produtiva, em razão de um exaustivo trabalho
conjunto de ambas as partes. Tanto daqueles que pela força das ferramentas
transformam a terra, como pela participação efetiva de uma consciência superior
que supre as necessidades mais prementes dos que produzem, como também dos que
necessitam desta produção para viver.
A proposta de Jesus é que Reino de Deus deve ser uma terra
abençoada onde essa parábola não faça o menor sentido. Mas ainda temos muito
que cavar, muito a semear e muito mais ainda a cuidar dessa fazenda, pois mesmo
que pareça que as partes negativas são vitoriosas, devemos acreditar sempre no
juiz justo, que fará com que a realidade, por mais adversa que se apresente,
não tenha e nem venha a ter a última palavra.
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