Essa oração Deus não responde. II

O fariseu e o coletor de impostos, autor não identificado
Em segundo lugar, a oração do fariseu estava baseada em aparências externas. Seu orgulho era construído sobre o alicerce instável do ter e não do ser. Aquilo que o fariseu fez: dar o dízimo e jejuar, e aquilo que ele se obrigou a não fazer: não beber, não fumar, não dançar, não jogar etc, eram regras ditadas por ele mesmo. Não havia dependência alguma de Deus em sua vida impecável de boas obras. Tudo o que ele conseguiu fazer de bom e tudo o que ele conseguiu não fazer de ruim ele conseguiu fazer sem Deus e, coitado, ele nem percebeu isso.

Por isso nós devemos cavar mais fundo ainda no ensinamento dessa parábola, para entendermos como o orgulho deturpa a nossa capacidade de nos enxergarmos como realmente somos. É muito fácil cair na ilusão de que estamos em comunhão com Deus simplesmente avaliando aquilo que temos feito. E o mundo está cheio de gente que pensa deste jeito. Simplesmente chegaram à conclusão de que a retidão depende exclusivamente de sua própria bondade, seus próprios esforços e das suas próprias boas obras. Na verdade isso é o que nós queremos enxergar e só enxergamos aquilo que queremos, quer seja verdade, quer não. Nossas mentes estão sempre maquinando para justificar nossos erros e ela se valerá de tudo para fazer com que nos sintamos seguros. E se nós nos sentimos seguros na nossa relação com Deus, nossa mente brigará até contra Deus para nos defender em nossa própria retidão e em nossas boas obras. Tudo o que eu sou, eu devo a mim. Eu obedeço à lei, dou o dízimo, jejuo, faço tudo direitinho e, por tudo isso, eu tenho garantido um lugar de honra na presença de Deus.

Por esse motivo muitas das nossas orações Deus não responde e nunca responderá. A finalidade da oração é nos fazer ver as coisas como elas são, não nos colocar num mundo de ilusão e num paraíso de fantasia; de fazer com que nós nos vejamos como realmente somos; de ver Deus como ele tem se revelado a si mesmo na pessoa de Jesus Cristo. Deus quer que nos confrontemos a pessoa verdadeira que está dentro de nós. Quer nos colocar diante de nossas esperanças, nossos sonhos, nossos demônios e nossos fantasmas do passado. O dia em que não tivermos mais essas coisas, aí estaremos no céu, mas por enquanto temos que encará-las. Deus quer que na oração venham à tona as nossas fraquezas, nossos pecados, nossas oportunidades perdidas e nossas potencialidades desperdiçadas. Quer que sejamos honestos com aquilo que desejamos, pois é comparando aquilo que desejamos com aquilo que Deus deseja de nós, que nós podemos fazer uma oração que Deus escutará e responderá.

O terceiro motivo da oração do fariseu não ter chegado a Deus é que lhe faltou humildade. Humildade genuína e a expressão externa de gratidão e de coragem de ser. A humildade faz e ao mesmo tempo responde três perguntas essenciais:
O que é que eu tenho que não foi me dado?
Quem sou eu na realidade?
Quais são os próximos passos na aventura do meu crescimento?

O fariseu jamais faria essas perguntas a si mesmo, porque piamente acreditava que havia conseguido tudo por seus próprios esforços. Não havia introspecção, não havia autocrítica, e nem ousava pensar em tais coisas. Ele estava satisfeito consigo mesmo, e essa é a tragédia maior na percepção de onde estamos e de onde Deus quer que estejamos. Uma pequena dose de humildade teria aberto os olhos do fariseu para estas coisas. (anterior) (continua

Nenhum comentário:

ads 728x90 B
Tecnologia do Blogger.